Mais um dia onde
sonhos, esperanças e surpresas
já não me acompanham o
imortal sono e frustrado despertar.
Nada mais excita, surpreende
os humanos são, apesar dos séculos
os mesmos que desfilavam outrora:
vaidades, torpezas, frivolidades e crueldade!
Sempre foi divertido caçá-los
e extinguir vidas tão desnecessárias;
absorver o doce licor de suas pulsantes veias,
saborear o apagar do brilho de seus olhos...
Porém, assim como seco suas veias
e descarto o corruptível corpo,
os séculos drenaram minha ansiedade
e a sede já não se satisfaz!
A insatisfação e monotonia
de todo esse tempo passado e, àqueles
que sucederão, me enchem
de tédio e anorexia.
Nada, ninguém que valha
o esforço, a atenção, o cuidado...
a chamar atenção real, para saborear
aquele rubro e quente derramar de vida!
Então, um riso meigo e olhar gentil
aguça meu desejo e arde minha sede...
alvíssima pele em roliço e macio pescoço
de jovem vendedora de flores,
Em seus longos e ruivos cabelos
resquícios de minúsculas flores brancas
qual grinalda de prometida noiva...
nas veias o sangue em rápida e enlouquecedora marcha!
Enfim sinto a ânsia retornar e crescer
a tal ponto de não suportar perdê-la.
Preciso de sua essência dentro de mim
revigorando-me, alimentando-me!
Alguém compra-lhe as flores enquanto eu
aguardo nas sombras aquele instante perfeito
onde a caça cai nas garras do caçador,
um momento único de união perpétua.
Ao findar seu estoque retira-se
satisfeita à caminho de casa.
Acompanho seus movimentos sinuosos
ardendo em chamas de loucura!
Num instante arrebato-a para
afastado jardim e entre os arbustos sugo
o sangue tão avidamente desejado e necessário
ao refazimento de minha personalidade carcomida.
Seu macio e perfumado cabelo ruivo
tinge-se do rubro de seu sangue enquanto
viajo no sabor único de sua vitalidade
enchendo-me à luz de indefinível luar.
Ariadne
Nenhum comentário:
Postar um comentário