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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Cativo





Mais um dia! Estava quente e o Sol inclemente, causticante, sufocava. Andava cansado, sobrecarregado de trabalho; suarento atravessa rapidamente a Avenida em direção ao escritório onde pilhas de pastas tomam a sua mesa.
Deixou-se cair desanimado na cadeira e olhou toda aquela papelada.

"- Droga de vida! Emprego odioso!"

Sem alternativa inicia a organização da mesa quando, em meio às pastas, percebe um volume diferente envolvido em papel ordinário e cinza. Curioso, abre o embrulho e surpreende-se: um pequeno livro arroxeado com o estranho título: "Esta é a sua vida"; procurou o remetente mas nada encontrou, além de um endereço desconhecido. Intrigado folheou o volume e, lendo, começa a assustar-se! O livro era um relato detalhado de sua vida, desde o nascimento! Cada detalhe, erro, acerto, tristeza, felicidade, cada fato...nada passou em branco. Esqueceu-se de todo o resto e avançou na re-leitura de sua vida. Devorou cada página, reviveu cada emoção, amargou novamente cada derrota e decepção até o momento em que encontra o livro sobre sua mesa, então as páginas ficam totalmente  brancas, sem vestígios, sem pistas...surpreso e ansioso procura avidamente, mas nada encontra. Desesperado resolve ir ao endereço do remetente descobrir o que está acontecendo. 

Atravessou correndo as avenidas, quase sendo atropelado, cruzou praças e, esbaforido, chegou ao local. Surpreendeu-se ao ver um estranho e antigo edifício, semelhante à um museu, arquitetura gótica, escuro e com enormes janelas.
Correu para a porta e entrou. Dirigiu-se ao bibliotecário em busca de informações e estremeceu ao encontrá-lo; um homem de meia idade, porém ossudo e grisalho, olhar vazio, aguardava atrás do balcão, uma figura realmente assustadora. Tentou balbuciar uma pergunta mas o homem apenas ergueu o ossudo dedo e apontou para um corredor onde, ao final haviam várias estantes. Foi até a indicada com passos vacilantes e temerosos, viu dezenas de outras  pessoas chorosas e desesperadas, sentadas no chão ao longo das diversas estantes espalhadas pelo soturno ambiente; todas tinham um livro igual ao dele em suas mãos, todos aguardavam com olhar petrificado de medo e de terror por algo recentemente descoberto. 

Virou-se para a estante indicada pelo bibliotecário e, sob o peso do olhar de todos, retirou o volume II complementar daquele que possuía. Abriu-o aflito e leu, à medida que lia empalidecia. Novamente a exata descrição de tudo o que ocorrera do momento em que vira as páginas em branco, até aquele em que lia e o que lera lhe encheu de terror!
Ele teria coragem de deixar aquele sinistro recinto, atravessar a calçada e retornar para sua casa depois do que havia lido? A dúvida martelava-lhe o cérebro escaldante e oprimia ainda mais seu coração. 

"- Que fazer?! Certamente nada ocorreria, deveria esquecer tudo e seguir adiante, aquilo não poderia estar acontecendo, não tinha lógica - pensou."

Olhou para a esquerda e viu uma janela, correu para ela e pôde ver a rua tranquila...sorriu reconfortado, era tudo terrível ilusão, brincadeira doentia de alguém; decidiu partir e então de repente, a carrocinha de pipocas parou próximo ao canteiro, surpreso viu que o cenário de sua morte ia se desenrolando como lido, à medida que desejava partir...

Viu-se prisioneiro de terrível pesadelo que não terminaria nunca, ao menos em quanto vivesse. Vencido pela loucura que arrebatara todos ali presentes, quedou-se em profunda angústia. Sentou-se perto da janela e ficou observando uma vida que perdera, pessoas que jamais veria novamente, a outrora odiada vida que agora ansiava retornar, mas que jamais teria...
Tornou-se um espectro colado à janela, observando e esperando.



Ariadne

3 comentários:

  1. Nossa adorei! Nem eu escrevo assim , da até uma invejinha branca. Kkkkk. Tem selinho pra vc lá no blog , bjus

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    Respostas
    1. Obrigada! Que grande elogio vindo de vc...e seus contos tmb são de dar inveja saudável kkkk

      Beijão!

      Obrigada pelo selinho.

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